Caça e Conservação

Ao contrario do que muitas vezes se imagina, a caça amadorista não representa uma ameaça à sobrevivencia da fauna silvestre, que é, gravamente ameacada pela acelerada perda de "habitats", causada pela expansão sempre crescente das atividades econômicas, principalmente agrícolas. Destruidos os ecossistemas, perde-se a fauna que neles vivia. Nesse contexto, a caça amadorista vem sendo um fator de estímulo direto à proteção dos ambientes naturais, de vez que representa uma alternativa sustentável de uso da natureza que gera recursos imediatos para sua conservação. Isto se dá através do pagamento de taxas específicas e de arrendamentos de áreas naturais para a prática cinegética. Em alguns países, cuja legislação é mais desenvolvida, a criação de espécies em Parques de Caça, ocorre em áreas cuja preservação é assegurada. Essa proteção dos ecossistemas onde vivem espécies-alvo de prática da caça amadorista beneficia, evidentemente, não apenas estas espécies, mas todas as demais aí presentes, inclusive as ameaçadas de extinção pela perda de seus "habitats".

Nos países europeus a caça vem sendo praticada e regulada há centenas de anos, havendo hoje fauna abundante - mesmo nas nações que atravessaram duas guerras mundiais, e que hoje sao altamente industrializadas e urbanizadas. Nos Estados Unidos a caça amadorista movimenta uma economia de US$ 13 bilhões, (The Economist-1992), dos quais expressiva parcela arrecadada e destinada, segundo a Lei Pitman-Robertson, para sustentar e ampliar magnificos sistemas de Refúgios Naturais de Vida Selvagem que protegem milhões de hectares de áreas naturais. Nos EUA, Canadá e México existe uma taxa (Ducks Unlimited - DU), que é cobrada dos caçadores amadoristas e que é revertida para a preservação de ambientes naturais. Só no Canadá, entre os anos de 1938 e 1996, o DU protegeu 6.072.791 ha e ampliou áreas já protegidas em 1.228.132 ha. Neste mesmo período de 58 anos, o DU do Canadá investiu US$ 700 milhões na preservação de 7,3 milhões de hectares. Noutros países de rigida gestão ambiental, como é o caso da Austrália, também é permitida a caça controlada em seus territórios.

No Brasil, onde a caça é regulada por lei federal, desde a promulgação do Código de Caça e Pesca em 1934, o Estado do Rio Grande do Sul sobressai-se no contexto nacional pela organização rigida das temporadas de caça amadorista, com pesquisas previamente realizadas pela autoridade reguladora para determinação de espécies, quantidades e áreas permitidas, bem como pela destinação de recursos relevantes para a proteção não apenas dos ambientes onde se caça, mas também e principalmente, de parques e reservas ecológicas de proteção integral, como são os casos da "Estação ecológica do Taim" e do "Parque Nacional da Lagoa do Peixe".

A caça amadorista praticada no Rio Grande do Sul não é uma "exceção", já que diversos países do Cone Sul e limitrofes, que compartilham da mesma fauna, permitem o uso controlado das mesmas espécies que ocorrem em território gaúcho, em especial marrecas, perdizes e esspécies exóticas, tais como lebres e javalis.

Fica claro, portanto, que a atividade cinegética - a caça amadorista regulamentada - nada tem a ver com a matança ilegal e descontrolada da fauna, que deve ser reprimida e punida com o máximo rigor, com o integral apoio dos caçadores amadores, que são inimigos declarados da caça furtiva (clandestina e criminosa).

Uma das mais relevantes contribuições diretas que o caçador amadorista presta a conservação da natureza do sul do país é a proteção das áreas úmidas, existentes em solos de várzeas no estado do Rio Grande do Sul. Tais solos perfaziam 5.300.000 ha no final do século passado e hoje não restam mais de 40% dos originalmente existentes, estando os remanescentes 2.000.000 de ha seriamente ameaçados e fragmentados. Tal devastação seria muito mais acelerada não fosse a intervenção dos caçadores neste processo de degradação, quer seja pelo arrendamento - que aos poucos vai se transformando numa opção econômica alternativa para os proprietários rurais, quer seja pela aquisição.

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